Rua do Senado em dia de São Jorge!
O tempo começa a esfriar e o meu sono a melhorar. Graças a Deus! Tenho dormido mais, tenho andado mais preguiçoso, com menos disposição. Não me sinto doente de nada, apenas com menos energia e mais apegado a não fazer nada. Credito isso ao clima, que está muito mais gostoso para não fazer nada em casa.
Dito isto, estava eu domingão em casa na maior das preguiças, assistindo com dificuldade uma corrida de motos do Mundial de WSBK quando minha amiga Miriam manda mensagem dizendo que estava com uns amigos na Lapa, após sair da missa de São Jorge. Dia 23 de abril é um dia de festa na cidade. São Jorge é um santo muito querido. É Santo Padroeiro de Portugal, Inglaterra, de Moscou, dos Escoteiros, da cavalaria do Exército Brasileiro, apenas para citar alguns.
No sincretismo brasileiro, quando os negros africanos proibidos de cultuar os seus Orixás escolheram santos católicos para representá-los, foi escolhido a dedo São Jorge para ser Ogum. Santo Guerreiro que dizem ter se adaptado perfeitamente para este papel.
São Jorge é um dos santos mais venerados no catolicismo (tanto na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa, como também na Comunhão Anglicana). Aqui na Tijuca foram muitos fogos em comemoração a Ogum e São Jorge.
Mirian, como muitas de minhas amigas, é Mãe de Santo, Umbandista. Um monte de amigas novas são umbandistas, participando de Giras que cismam em acontecerem nos fins de semana.
Decidido a me animar e ir para rua, dia lindo, fui lá conferir a festa na Lapa. Na verdade não era bem na Lapa e sim na “Lapa Extendida” e estava na Rua do Senado. A Rua do Senado tem um significado muito especial para mim, pois lá eu fui morar quando nasci.
Minhas lembranças mais antigas são no apartamento do edifício Senatus (que está lá até hoje). Lembro-me de seu Bento colocando a Lambretta prá dentro da portaria, onde ele a guardava, debaixo da escada. Também lembro-me de correr atrás das Cotias no Campo de Santana, e dos caminhões dos Bombeiros.
Não lembro de muitas coisas, mas é um endereço muito especial para mim.
Estavam todos lá na esquina com a Gomes Freire, ao lado do Armazém Senado, uma casa fundada em 1907 e reconhecido como Patrimônio Cultural Carioca. Eu nunca tinha ido lá, um absurdo né? Nasci ali e demorei quase 60 anos para ir lá. Muito interessante o movimento. A tribo da minha filha, hipsters, gente bonita tatuada, fiquei olhando por mais de 2 horas e não encontrei ninguém, nenhum conhecido. Incrível isso, conheço muita gente. No Armazém Senado armava-se um samba.
Bem em frente tínhamos um Bolo para São Jorge, muito bacana a homenagem e o lugar estava enchendo e imensas filas se formando para comer no Restaurante Labuta e no boteco do Labuta. Peguei lá para análise o cardápio do Labuta. Pareceu-me muito bom e com preços bem razoáveis. Mas comi um sanduba de pernil no Boteco do Labuta. Muito bom também, bem temperado e feito com amor. Furei a fila de maneira olímpica e inocente. Me sacanearam dizendo que me atenderam preferencialmente. Sacanagem.
Armou-se um toldo na rua, que estava totalmente fechada por pessoas e sem trânsito, onde iria rolar um som ao vivo.
Cansei de ficar em pé, cansei de olhar gente tatuada e maluca, a preguiça ameaçando voltar e piquei minha mula de volta prá casa. Foi uma experiência incrível, uma imersão em um ambiente e população que eu habitualmente não vejo, e que deixou clara a minha ignorância sobre bares, lugares, restaurantes e points do centro velho do Rio de Janeiro. Vou voltar lá para comer no Labuta e olhar mais aquela parte da cidade.
Obrigado Miriam pelo convite.