OlhandoaCidade

Caminho do Trenzinho do Corcovado

Não lembro se já contei aqui no Olhando a Cidade, mas D. Araci, aka Mamãe, foi maluca o suficiente para me dar uma moto com 14 anos. Não para andar na fazenda ou no mato, mas para andar na rua mesmo, ir para a escola e, logo depois, trabalhar. Com 15 anos eu já ralava no estúdio da Artplan. Naqueles dias longos que eram os da nossa adolescência, sem internet para chupar o nosso tempo, tínhamos tempo para tudo.

E um dos meus passatempos favoritos era justamente, Olhar a Cidade!!! Saíamos eu o meu compadre Eduardo Martins, a zanzar pela cidade, gastando uma gasolina azul barata, só para conhecer. Folheávamos o Guia Rex, xerocávamos algumas páginas, e saíamos para explorar. Especialmente estas ruas sem saída que acabam em morros, são quase sempre pitorescas e lindas. E temos morros pela cidade inteirinha!! O que não faltam são lugares pitorescos e lindos no Rio de Janeiro.

Coisas que já não existem mais… andar de cinquentinha sem capacete de menor pela cidade, gasolina azul, Guia Rex e a Xerox, que não é mais o que era.

Uma pena sermos uma cidade tão empobrecida e perigosa. Fossemos rycos como os americanos, todas estas subidinhas da cidade seriam como Pacific Palisades em Los Angeles, uma lindeza só. Mas não somos… hoje em dia é perigoso fazer isso. E as subidinhas geralmente acabam em casas velhas, caindo aos pedaços. Os poucos ricos da cidade tem fixação por morar na beira-mar.

Toda esta introdução apenas para contar ontem, voltando do meu mestrado na PUC e indo para o escritório no Flamengo, me deu vontade de subir até a linha do Trenzinho do Corcovado, ali no Cosme Velho. É um lugar lindo, que já fui inúmeras vezes, e não deixo de achar legal.

O trenzinho do Corcovado é muito lindo. O modelo agora é mais novo, nunca andei neste, mas andei no anterior e vou te dizer que é um programa maravilhoso. O visual é de tirar o fôlego. Mas… é Rio de Janeiro né? Uma cidade que não se cansa de desperdiçar oportunidades de fazer direito.

O quiosque oficial para a venda de passagens, no Largo do Machado, é ridículo, uma piada. Um contêiner horroroso. O esquema de Vans, com motoristas barrigudos mafiosos certamente coordenados por uma milícia controladora, é ruim. Lá em cima, em uma das maiores atrações da cidade, conhecido em todo o mundo, não temos um restaurante, lanchonete ou atendimento decentes.

Ali, onde eu bati as fotos, é uma rua sem saída. Incrível que tem uma casa do outro lado da linha do trenzinho, onde para chegar em casa o caboclo cruza de carro a linha. Eu acho que está no Booking, é esta casa aqui ó. Outras pessoas moram também na lateral da linha, onde o acesso é literalmente andando pela linha do trem, incrível. Tem ali um hostel, o Hostel do Tucano

Eu já tinha estado ali antes muitas vezes, vejam fotos mais antigas, com o trenzinho antigo.

Descendo, ainda conheci esta escadaria lindinha, a Travessa das Escadinhas Dona Martha. E vejam que curioso:

Decreto na íntegra retirado do site: Jus Brasil

                     Decreto 28674/07 | Decreto nº 28674 de 12 de novembro de 2007

                     O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso das atribuições legais e, CONSIDERANDO que a confusão a respeito dos nomes surgiu em função do Mirante Dona Marta, ponto turístico no cume do morro;

                    CONSIDERANDO que o Morro Dona Marta foi assim chamado, em homenagem a Dona Marta Figueira de Mattos, mãe do Vigário Geral Dom Clemente José de Mattos, proprietário no século XVII, da Quinta São Clemente em Botafogo, cujas terras se estendiam até a Lagoa Rodrigo de Freitas. Nelas Dom Clemente abriu um caminho que dava acesso a Capela de São Clemente, por ele erguida, esse caminho deu origem a atual Rua São Clemente; e, CONSIDERANDO que a favela se chama Santa Marta por causa de uma imagem da Santa homônima situada dentro de uma capela na parte alta da comunidade. Essa imagem foi levada lá por uma antiga moradora no início do século XX. Com a chegada do Padre Veloso na década de 1930, foi construída essa pequena capela para abrigar a imagem de Santa Marta, consolidando assim o nome do local, DECRETA:

               Art. 1º Respeitando a tradição e a história, com base nas considerações deste Decreto, a nominação do morro localizado na Rua São Clemente é MORRO DONA MARTA e a comunidade local é FAVELA SANTA MARTA.

               Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

               Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2007 – 443º de Fundação da Cidade,

               Ass.: CESAR MAIA. 

Isso nem eu sabia… descobri agora. Eu não pensava e usava Santa Marta e Dona Marta como se fossem a mesma coisa. Obviamente, não são. Está explicado.

Não é nada demais, mas 99.9% dos cariocas nunca foram ali curtir o trenzinho passar. Aliás, acho que 99% dos cariocas sequer andaram no trenzinho. O turismo é vendido para fora, para o exterior. Fosse vendido para dentro, lotaria aquilo, mas “os pessoal” nem sabe direito como fazer.

Espero que tenham gostado, vamos por aí, olhando a cidade.

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo® - www.motozoo.com.br -, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

Um comentário

  • Chris Carvalho

    Fiz esse trajeto no trenzinho antigo uma única vez, em minha primeira visita ao Corcovado.
    Lembro-me de sentir o ar puro entrando pelas janelas e a natureza nos abraçando rumo ao Cristo.
    Foi inesquecível.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.