Gaffrée e Guinle
Neste feriado convidei a ilustre Joana Rei para um passeio de bicicleta aqui por perto. E o Gaffrée e Guinle é muito perto aqui de casa. Posso ver da minha janela o quase centenário hospital. É de 1929, daqui a pouco faz 100 anos.
Sobre o gaúcho Cândido Gaffrée pouco se fala ou sabe por aqui. Na Wikipedia diz:
“Em um curto espaço de tempo, entre 1870 e 1888, ele construiu rodovias no Nordeste e se tornou proprietário da maior fazenda de café de Botucatu, no interior de São Paulo, até ganhar, junto com Eduardo Palassim Guinle, a concessão para construir o Porto de Santos, pelo prazo de 92 anos. Morreu em 1920, deixando vultosa quantia para a Santa Casa.”
Nada mal. Sobre os Guinle a sociedade carioca sabe muito mais. Além das aventuras e da vida do playboy Jorginho, existem ruas, palácios na cidade com este nome. Além, é claro, do Copacabana Palace, construído pela família. Leiam que começo interessante:
“A história da família principia em meados do século XIII, na França medieval. Na década de 1290, Pierre Guinle (cognominado L’Ancien, o velho) foi sargento e camareiro-mor de Felipe, o Belo, além de bailio (governador) da cidade de Ruão.”
Uau! Vale a pena clicar aqui para ler um pouco mais sobre os Guinle, também na Wikipedia, a fonte dos preguiçosos como eu. Ou, para quem se interessar mais ainda, achei este livro na Amazon. Vou comprar e ler, me interessa.
Ontem parei para olhar, e fotografar. Eu já estive no hospital antes para uma consulta. Como aluno da Unirio, tive acesso aos seus serviços de forma privilegiada, coisa que quase nenhum aluno sabe que tem. Mas neste dia, ocupado com a consulta, não olhei com cuidado.
É bonito, razoávelmente preservado. Sua arquitetura é no estilo neocolonial e representa a maior conquista da Fundação Gaffrée e Guinle. Obra filantrópica das famílias, foi o maior hospital da cidade em sua época, com 320 leitos. Nasceu especializado no tratamento da sífilis, então um grande problema. Tornou-se um dos mais importantes capítulos da história da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, segunda faculdade de medicina fundada no Rio de Janeiro e quarta no Brasil. Já como parte da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), tornou-se nos anos 1980 o primeiro hospital brasileiro a se especializar no tratamento da Aids.
Sobre o Hospital localizei dois textos muito interessantes. O caro A História do Hospital Gaffrée e Guinle e o incrível trabalho da Doutora Gisele Sanglard em Hospitais: espaços de cura e lugares de memória da saúde, imperdível para quem quer conhecer sobre o Gaffrée e Guinle. E este é de graça, é só clicar.
Ao passarem pela Rua Mariz e Barros, parem e olhem, é bonito, é histórico, é importante.
Mário Barreto
4 Comentários
Lucia Martins
Show Mário!
Adoro suas crônicas sobre os cantinhos escondidos e/ou esquecidos na nossa cidade. Para mim, que já não moro mais aí, traz a sensação de estar mais próxima! 😉
Tatiane Alves
Que lindo Mario, sempre um prazer te ler e passear contigo por aí. Sobre a questão da preservação da arquitetura que vc bem tocou, tem um porém… Há no Brasil uma injustificada escassez de unidades de formação em restauro e consequentemente poucos profissionais dessa área capazes de lidar com as exigências legais muito bem monitoradas pelo IPHAN. Como você sabe, esses prédios são tombados e não se pode colocar um prego na parede sem a devida autorização. Então, a má preservação nem sempre é resultado apenas da má gestão ou da falta de recursos, falta gente que saiba fazer, falta tecnologia, falta uma boa faculdade de restauro no Rio de Janeiro. Isso seria oportunidade de trabalho pra nossa juventude e recuperação de tantos prédios lindos e históricos que aparecem com frequência por aqui. Beijão!
Rosa
Amo passear com você, primo, por esses lugares lindos e esquecidos pelo povo carioca!
Parabéns pela sensibilidade e iniciativa de nos fazer apreciar e aprender sobre nossa cidade maravilhosa!👏👏👏👏
Adriana Veras
Amei !